segunda-feira, 8 de março de 2010

Para nós!



"Toda mulher é livro de filosofia francesa e corpo de gostosa de TV: nós nunca sabemos por onde começar…

"Encontrando razão na beleza"

Quando abro blogs, livros ou mentes de mulheres, minha primeira sensação é de desordem: “Por onde começar?”. É como filosofia francesa: você tenta uma leitura rápida, busca por tópicos, itálicos e negritos, varre o sumário, vê se alguma página tem um esquema ilustrativo, e nada. Só resta ler os últimos parágrafos, esperando pela conclusão para decidir se o livro vale a pena ser lido. A vida também. Se tivéssemos visto os últimos momentos ou apenas os highlights, não teríamos escolhido pela existência. E não é que eu sempre acabo comprando o tal livro? Talvez porque o “Por onde começar” é também o primeiro pensamento diante de um corpo feminino deitado…

Homens buscam estruturas, modelos, paradigmas. Já viu quantos palestrantes alardeando sobre o último modelo mental para resolver todos os seus problemas? Ou quantos livros sobre o novo paradigma? Quando não se é rio, preocupa-se com barragem. Homens fazem instrumentos de análise, códigos de automação, redes de comunicação. Quando não se é rio, preocupa-se com usina hidrelétrica. Homens são conhecidos pelas invenções tecnológicas: gadgets para facilitar ações, engrenagens para acelerar movimentos, artefatos para navegar a vida. Quando não se é rio, preocupa-se com barco. Homem faz mapa, rafting (fiz 2 vezes), mergulho. Quando não se é rio, preocupa-se com travessia… Mulher é rio, é vida, é aquilo que tentamos conter, navegar, acelerar, atravessar, calar, automatizar, reter, conectar, ativar, gozar.

Se elas já são movimento, a única ação possível não vem de fora – é o próprio movimento. Imanência é o nome para isso: aquilo que permanece no interior. A única ação possível do feminino é aquela totalmente descartável, pois é adicional àquilo que já segue, já anda por si só.

Eu admito: nunca um homem será poético. Homem pode publicar mais poema que mulher (ou pelo menos é o que parece, se deixarmos análises feministas de lado), mas esses autores todos são como crianças na sexta-feira, quando podem brincar com o brinquedo do outro. Homem poetando é criança se melecando com o brinquedo do outro. É tão mais legal! Mulher, sim, poética do início ao fim, sem querer, de um lado pro outro, sem saber.

A poética feminina está em não se confundir em meio à própria confusão e simplesmente jogá-la em palavras perdidas em blogs, em olhares soltos nos cantos, em reboladas mínimas que parece que ninguém nota. A beleza dessa poética vem da confissão (cujo objetivo é menos afirmar do que costurar). Vem do vocabulário que alterna, da ausência de sentido, do “talvez” que se sabe justamente quando não. Suas linhas, muito além da literatura, são melódicas, pulsantes, espirais, noéticas.

Uma mulher movimenta, em poucos minutos, toda a energia que um homem nunca conhecerá em uma vida. Ela não tira fotos de ângulos diferentes, não procura poesia em todo lado, não dança com quadris e ombros… Ela é aquela foto, aquele ângulo. Ela é poesia. A própria dança. O nome da rosa.

O que para nós requer esforço, para elas é algo natural: nós fazemos, elas são. Elaboramos teorias sobre embodiment, pois – na cama e na ciência, na empresa e na filosofia – nossos corpos e mentes são dois bêbados distantes. São dois, quando nelas corpo e mente são não dois, não um. Guardem isso, homens amigos: se quiser tocar o corpo de uma mulher, jogue com idéias e pensamentos; se quiser acesso à mente feminina, use seus dedos e pele. Não tente analisá-las ou explicá-las sem poesia. Tinja o texto de lilás, coloque uma foto de natureza, escolha as palavras, faça arte, coloque um título que não diz nada: “não dois, não um”.

Homens falam para se comunicar, se fazer entender. Mulher é poesia: não fala o que diz. Mulher fala sem “parar”, sem objetivo. Fala abrindo a boca, com o som que sai, a reação do corpo do outro, do braço que ensaia, do olho que desvia, com o ambiente, o cheiro, os outros, o acima, o abaixo, com os lados, com a música do ar. Para ouvir uma mulher, temos de ouvir tudo isso. Cheirar o ar em volta dela. A escuta como respiração.

Na mulher, é sempre o contrário, o oposto, o zigue-zague na trança da gafieira. Elas nascem sabendo de cor o convexo do côncavo, as duas imagens da ilusão de ótica, o yin do yang e o yang do yin. Tudo tão simples! A lógica é desnecessária. Quem tenta aprender lógica é aquele tolo confuso por tantas jogadas de cabelo, cruzadas de perna, oitos de costas, sims e nãos.

Mas é no palco que rola a dança entre esses dois seres tão diferentes. É na arte que o feminino que se basta encontra com o homem que anseia por olhar, explorar e aproveitar. É no poema que a mulher jorra para alguém, se manifesta para alguém, aparece e brilha para alguém. E somos gratos por ser apenas alguém.

Ela não é nada nem tudo porque nada e tudo é nela (”é”, assim mesmo, com conjugação estranha). Ela não é nem eu nem você para que eu e você possamos ser. Em nós, a imanência explode e se transcende, mas tudo sem sair de si. Nossas vidas e identidades são só essa curta passagem de um estado ao outro. Somos o intervalo, um bardo.

É esse o verdadeiro Big Bang. E toda a minha vida é só mais um devaneio desse cara que agora deita ao seu lado na cama."

Agradeço ao meu amigo Gustavo por tais palavras unindo um texto magnífico. E para minhas amigas leitoras e leitoras amigas o nosso humilde "feliz dia internacional da Mulher", afinal nós podemos!

Carpe Diem!

4 comentários:

Kha disse...

Feliz nosso dia para todas!

Verinha disse...

Feliz nosso dia para todas!²

Ju disse...

bom mesmo era se fosse feriado, isso sim (:
feliz nosso dia, meninas:*

Babi Cardozo disse...

feliz dia nosso, mulheres super poderosas! :)