A vida sem palavrões é impossível

Olá Pessoas, 

Mais uma vez peço desculpas (só para quem realmente se importa) pela minha ausência. Estou tendo um mês definitivamente "outubrino", todos os dias foram dias de bruxas soltas, loucas e raivosas. Enfim, uma hora tudo passa e em meio aos transtornos eu xinguei muito (quem me conhece sabe que isso nem é tão difícil) só para extravasar e como inspiração para esse retorno, eis um texto ótimo sobre os tais palavrões. Divirtam-se!

A vida sem palavrões é impossível

Texto de Millôr Fernandes.

O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional a quantidade de “foda -se!” (Porra, ando muito estressada então) que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do “foda-se”? (Não, não existe)

O “foda-se” aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta. Não quer sair comigo? Então “foda-se!” Vai decidir essa merda sozinho (a) mesmo? Então “foda-se!” (Vai continuar enchendo meu saco? Então foda-se e por aí vai hahaha)

O direito ao “foda-se!” deveria estar assegurado na Constituição Federal (Opa! Já estou criando um abaixo assinado. Alguém topa assinar?). Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos (Vou memorizar esse parágrafo e na próxima reprimenda que tomar, cuspo-lhe na cara com toda a educação que mereçam).

É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia (Dentre 10 palavras ditas, 11 serão palavrões. Fato. Visitem um estádio de futebol em dia de clássico).

“Pra caralho”, por exemplo (Meu preferido, depois do foda-se é claro). Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que “pra caralho”? “Pra caralho” tende ao infinito, é quase uma expressão matemática (Exacto).

A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende? (Te entendo, pra caralho)

No gênero do “Pra caralho” , mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso “Nem fodendo” (Hahahaha esse é o Top entre os cariocas). O “Não, não e não!" tampouco é nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade “não, absolutamente, não!” o substituem. O “Nem fodendo!” é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida (Ex.:Vai entregar esse relatório ainda hoje? Nem fodendo!!!).

Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro para ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo: Marquinhos, presta atenção, filho querido, “NEM FODENDO!” O impertinente se manca na hora e vai para o shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio (Ou do Kings of  Lion, ou Florence and Machine... a seu gosto)

Por sua vez, o “porra nenhuma” atendeu plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes , que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional (Vulgo PN).

Como comentar a gravata daquele chefe idiota senão com um “é PHD porra nenhuma!” ou “ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!” O “porra nenhuma”, como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior (E ironia alheia e que se foda quem não gostar). É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos “aspone”, “chepone”, “repone” e mais recentemente o “prepone” – presidente de porra nenhuma (hahahaha sensacional).

Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um “Puta que pariu!” ou seu correlato “Pu-ta-que-o-pa-riu!”, falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba. Diante de uma notícia irritante qualquer um “puta-que-o-pariu!” dito assim te coloca outra vez no eixo (Num equilibro perfeito com o mundo). Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso “vai tomar no cu!”? E sua maravilhosa e reforçada derivação: “vai tomar no olho do seu cú!”(Ou bem no meio do seu cú). Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: “Chega! Vai tomar no olho do seu cu!” (Uffa, melhor que meditação) . Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e sai à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor íntimo nos lábios.

Seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar. “Fodeu!”(Uhull), e sua derivação mais avassaladora ainda: “Fodeu de vez!” (ô). Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documento do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você, mandando você parar. O que você fala? “Fodeu de vez!” ( tenha certeza que fodeu mesmo).

Liberdade, Igualdade, Fraternidade e FODA-SE! (Viva la Revolucion!!!)

Achando pouco a quantidade de palavrões acima citados, enfio mais uma quantidade imensa com dose extra de humor. Quem não viu, vá tomar no cu, hein!!! 

Aproveito este momento libertador para mandar um "Nem fudendo" para quem achou que eu desistiria! Hahaha Porra nenhuma!!!

Comentem nesta porra ou então Vão se fuder!!!!

Amo viu, gente! :)